Já
não há tempo de explicar aos pósteros
o
que foi uma videolocadora
Certos
mares, talvez
laborada
exalação de sua tristeza
São
certos mares, pálidas montanhas
concorrentemente
tristes
E
também certas ilhas pegadas ao solo apenas pelos nomes
A
esta longa elemental tristeza
Opõe-se
esta outra
Tão
breve e, em última
instância, dizível
quanto
hálito
que
se raja contra uma vidraça
Sob
uma marquise,
ao
abrigo de chuva repentina,
É
claro, uma situação, madrugada
Noto
que às minhas costas há uma videolocadora
E
ao ler a placa
Últimas
semanas, venda de estoque
Quarenteno uma emoção, admito, um tanto burguesa,
ao reparar no piso axadrezado,
através das grades,
ladrilhos, suponho, ladrilhos
pretos, brancos
Sobre um sábado chuvoso
Exíguo
O lugar é exíguo, subitamente inunda
daquele leve pasmo de pessoas que não sabem ao certo o que fazem de
seu dia
apinham-se diante da estante de Lançamentos
lamaceiam pegadas
(sobre pegadas) (sobre pegadas)
sobre o piso axadrezado
Haverá tempo ainda
tempo de falar aos pósteros sobre os funcionários
das videolocadoras
sua beleza sem vigor, seu imperioso tédio,
sua juventude – sempre truncada – sempre truncada, ou não?
Já não há tempo,
afinal,
preteridos pelas montanhas,
tornaram-se tão provisórios quanto sempre nos pareceram
Rápido, rápido acaba-se o tempo das explicações, há estas
montanhas
com e sem tempo
E depois de se extinguirem, a lua
sentada nalgum sítio sobre
a marquise, sob a marquise
junta-se a mim um casal que espera a chuva abrandar
Com efeito, a chuva abranda, passados
dez ou quinze minutos
O casal parte,
Provisório, capa mais branca que
cai, recebe-o em sua queda
a montanha, penso
eu
(Eu estou pensando)
O momento não
é tão oportuno quanto sempre nos deram a entender
Pense novamente
Ninguém nos espera –, RÁPIDO –, ninguém espera
a chuva
que a ultrapasse uma banca de cachorro-quente
um ônibus vazio
risco branco
velocíssimo destino centro cai
às minhas costas
uma videolocadora prestes a encerrar suas atividades
Eu
penso alguma coisa afinal
Eu penso
Coloquemos diante da história uma pequena pena de videolocadoras
Coloquemos diante da história também esta pequena pena de
videolocadoras
Rápido, não há tempo de explicar aos pósteros
(o que são os invólucros do meu tempo? O que é este objeto negro, cassete na clareira?)
Coloquemos também na história
a vertente de uma montanha
coberta de ladrilhos
pretos e brancos